Essa frase do título serve muito bem para ilustrar o que
aconteceu comigo desde o começo do projeto Vitral mangá. Sinto que fiz certo ao
decidir não desistir apesar de todo o atraso para a saída dos novos volumes.
Não foi nada fácil lidar com isso, mas de repente tudo começou a dar certo
novamente. É como um dia de sol depois de semanas de chuva fria, finalmente
sinto o calor da realização chegando. Também sei que isso se deve ao meu
esforço e coragem pra levar a diante um gênero de mangá que não é nem muito bem
visto no Brasil e no mundo. Vitral é o primeiro Boys Love do país e tende a ser
um projeto com muitos ineditismos como o fato de terem saído dois volumes simultaneamente.
Isso nunca foi feito no Brasil creio eu.
Quando eu e a Soni criamos o Futago Estúdio de mangá
estávamos sem perspectiva e totalmente sem grana. Lembro que levamos três meses
pra juntar trinta reais para pagar o domínio do site. Era dezembro de 2009
quando colocamos o site no ar com os primeiros capítulos disponíveis para serem
lidos. Na época tínhamos feito uma pesquisa na comunidade do orkut para saber
se as pessoas preferiam ler os mangás com leitura oriental ou ocidental. A
leitura oriental ganhou e fizemos os mangás assim. Não tínhamos perspectiva
nenhuma de publicar. Mas um dia eu acordei com uma idéia fixa de procurar no
Google as palavras “mangá nacional”. Eu queria saber o que as pessoas pensavam
e estavam fazendo a respeito disso, fiz como uma pesquisa mesmo e de repente
encontrei um site de uma editora chamada Quadrix que tinha uma página para
envio de material e eles estavam criando um
almanaque com vários gêneros de quadrinhos inclusive mangás. Fiquei
interessada e enviei o mangá da Soni que tinha o primeiro capítulo com vinte e
quatro páginas como eles queriam, eu sabia que poderia não ser aceita já que a
leitura estava no sentido oriental. Mas sabe aquela coisa que diz que a gente
não tem nada a perder? E enviei no domingo, na segunda recebi o e-mail do
editor dizendo que não ia publicar na revista por causa do sentido de leitura.
Fui lendo feliz apesar de não ter sido aceita, mas logo em baixo ele dizia que
lançaria solo. Eu e a Soni corremos para a cozinha e contamos para a Dida,
nossa irmã mais velha. Ela leu o e-mail e ficou feliz também. Pra falar a
verdade foi a primeira vez depois de um ano da morte do nosso pai que a gente
conseguiu ficar feliz de verdade. Já tínhamos enviado o OPBS para algumas
editoras mais conhecidas, mas não tivemos respostas. Por algum motivo eu
acreditei de novo e tive um bom resultado. Fizemos o segundo capítulo em
fevereiro de 2010 em pleno carnaval.
No mesmo mês a editora anunciou o lançamento no site J-Box e
nós até que chamamos atenção. Nesse intere o editor sumiu de repente e ficamos
três meses sem notícia, o editor que tinha ficado no lugar nos enrolou e para a
nossa surpresa eles cancelaram todos os títulos de mangá. Ou seja, nosso sonho
ficou frustrado de novo. Eu me senti chateada com o descaso da editora, mas a
Soni não quis ficar parada e enviou o Vitral para a HQM. Passamos alguns dias
sem olhar a caixa de e-mail porque ficamos empolgadas com o show do Versailles
e só vimos o e-mail de resposta do Carlos dias depois do show. Ficamos super
felizes de novo e ele também quis publicar OPBS. Estávamos doentes por causa de
uma pneumonia que pegamos em São Paulo no dia do show e também estávamos com
dengue. Só que a gente tava tão feliz que nem sentimos as doenças, nós
conseguimos diagramar as revistas e elas foram lançadas no Anime Friends.
Infelizmente não conseguimos ir porque estávamos sem grana por causa dos remédios.
Deu tudo certo e vendemos bem, depois o Carlos disse que algo inédito tinha
acontecido, as revistas esgotaram na Comix em uma semana. Isso nunca havia
acontecido com revista nenhuma da HQM. Aquilo animou o editor que colocou as
revistas nas bancas. Eu e a Soni começamos a nossa loja e começamos a dar
entrevistas até na TV. Foi muito bom pra nós o reconhecimento das pessoas que
enviavam e-mail nos apoiando. Claro, teve gente que odiou e fui até acusada de
plágio por um Zé contrinha. Mesmo atribuladas fizemos os volumes 2 para saírem
em outubro de 2010. Bom, não saíram e o Carlos disse que em janeiro de 2011 sairiam.
Beleza, mas passou janeiro, fevereiro e março e o editor não entrou em contato.
Escrevi muitos e-mails e perguntei se os volumes iam sair ou não. Ele finalmente
respondeu que sim e nós ficamos mais tranquilas. Mas depois disso, os volumes foram ficando pro próximo mês e pro próximo mês. Quando chegou junho ele disse que sairia no AF, depois
disse que em novembro e depois em fevereiro de 2012! Eu e a Soni ficamos
flutuando sem saber o que fazer, alagumas pessoas começaram a tirar com a nossa cara
e dizer que tínhamos fracassado. Durante 2011 inteiro ficamos tentando resolver
os problemas com a HQM. O editor me deu vários motivos para não ter lançado,
mas nada ia pra frente. Chegou uma hora que eu achei que tínhamos uma maldição
do volume 2. Continuamos desenhando mesmo desanimadas e com pessoas ridicularizando
até a minha capa. Felizmente conquistei muitos leitores que jamais desistiram e
jamais perderam a esperança e isso me deu força.
E finalmente posso dizer que o projeto vai continuar de
fato. O preço subiu, mas em nome da realização do projeto eu concordei. Conto
com o apoio daqueles que acreditam que as coisas podem mudar no Brasil e dos
meus leitores e fãs.
Confesso que teve noite que não dormi pensando em como
ficaria o projeto com o fim da publicação. Eu me senti muito mal e tentei não
ficar com aquele pensamento do “por que eu nasci aqui?”. O pior momento foi
quando eu me vi a beira de dois anos sem nenhuma publicação. Sei que muita
gente entende que aqui é Brasil e não funciona da mesma forma que em outros
lugares, mas existem pessoas que acham que eu é que fui mole, chorona e cheia
de mimimi e até anti profissional. Que tudo deu errado porque eu não devia ter
nem tentado já que o que faço não parece melhor e nem novo perto dos mangás
japoneses. No entanto, eu só consegui ter uma primeira publicação e mesmo com
problemas consegui continuar porque eu PLANTEI PRA COLHER! Fiz o mangá,
desenhei ele e fui atrás das editoras apesar do Brasil não ser nem de longe
como meu amado Japão. Lá eles admiram o bambu que entorta e se curva com o vento,
mas não se quebram. Aqui acho que podemos seguir a bananeira que após dar os
cachos ela morre e surge outra. A gente sofre mais, mas produzimos frutos.
Eu e a Soni resolvemos investir no nosso estúdio, estamos
produzindo nossas próprias revistas. No começo serão apenas especiais. Mas com esforço
poderemos expandir. Claro, não foi fácil criar o Futago Produções. A gente
ainda é pobre e investimento significa dívida... mas espero que gostem e apóiem
o nosso trabalho. Essa idéia partiu da
nossa vontade de não deixar os nossos leitores sem a continuação caso a editora
demorasse mais. Isso encareceria muito mais o produto, mas seria o jeito.^^
Ah! Quem quiser já pode ir encomendando as revistas na nossa loja. Ainda estamos esperando a editora enviar o material, mas acho que
chegarão semana que vem e por isso resolvemos já abrir as vendas. Arigatou!