Jogando a toalha.

Hoje eu estava colocando retículas nas páginas do Vitral e acabei ficando meio baixo astral, já é março e ainda não saiu o volume 2. Tô cansada de esperar e de trabalhar no projeto sem saber se o editor vai mesmo publicar. Se não sair esse mês eu vou deixar o Vitral de lado e seguir com outros projetos, talvez eu até desista de tentar publicar mangá no Brasil. Chega uma hora na vida que não existe saco pra encher mais.  Eu falei com a Sonia e ela também não está aguentando mais essa situação estranha de vai não vai. Na verdade, nós duas estamos chateadas com a demora de publicação dos nossos mangás. A gente nem acredita mais  que vai sair mesmo. Afinal, fomos "enroladas" durante mais de um ano, não sei o motivo e ainda meio que levamos a culpa. 

É triste o mercado de quadrinhos no Brasil, todos tentam e nada do negócio ir pra frente. E não vai por mais que a gente se esforce. Sempre surge uma revista aqui e ali, mas acabam falhando também, enfrentam os mesmos problemas que eu e a Soni, não tem data regular, demoram pra chegar nas bancas e umas são anunciadas e nem saem. Alguns até investem pesado, vendem o carro, se juntam, mas depois morrem na praia. A coisa é tão doida que aqui no Brasil a gente sonha em ter uma obra que seja publicada até o final e não de ter uma obra que faça sucesso propriamente dito. 

Desde que eu era criança ( isso faz tempo...) nunca ouvi falar de nenhum desenhista brasileiro de quadrinho que tenha feito sucesso sem ser o Maurício. Ele ainda resolveu fazer mangá e acabou vendendo mais apesar de nem ser realmente mangá. O fato é que só Maurício consegue viver de quadrinho no Brasil, ficar famoso, ter prestígio e ganhar um dinheiro razoável. Todos os outros desenhistas que se destacam um pouco não conseguem prosperar realmente. Alguns desenhistas conseguem trabalhar para o Maurício, mas isso não é sucesso. Tornam se apenas empregados dele. O problema não é apenas viver disso, pois com talento e trabalho um dia a grana acaba vindo, é natural. Mas no Brasil tudo é um verdadeiro mistério. Quando a coisa parece que vai ela volta. Acho que estou muito descontente e a minha cota de paciência tá esgotando. Gostaria muito que meu mangá saísse esse mês, vamos ver se isso acontece. Mais um pouco e eu jogo a toalha. 

Espero que todos que sonham em ser mangakás aqui no Brasil tenham mais sorte do que eu. Não é fácil conseguir uma editora e quando conseguimos não significa que vai dar certo. Mesmo se vender bem, não significa que terá lucro e também não significa que será respeitado como artista nem pelo seu editor. Você pode ser considerado até revelação, mas te exploram pagando uma miséria ou o que dá pra pagar, que é sempre pouco. Sempre seremos menos que Maurício mesmo que desenhemos um mangá melhor que o dele. Mesmo que publiquem sua obra ela nunca terá a qualidade de impressão impecável e rica que existe no Japão. Mesmo que surjam 100 revistas de mangá onde se pode publicar, não significa que elas vão permanecer.  Mas mesmo assim desejo sorte a todos, coisa que eu ainda não tive. Pelo menos posso dizer que eu tentei apesar de todos os contras, não pisei no freio nas curvas me encolhendo de medo. Só não contava com a falta de uma equipe comprometida pra trocar os meus pneus quando precisei. O ruim é que a pista é no Brasil e não deu pra correr mais sem um carro melhor. 

Eu não sei o que será do futuro do Futago, mas vamos pensar em como sair dessa. ^^ Eu a Soni e o Ju bolamos muitas coisas pra esse ano e vamos continuar seguindo nossas metas pra chegar em nosso objetivo, mas Vitral e OPBS vão ficar esperando algo acontecer. Espero acordar de bom humor amanhã.